sábado, 28 de junho de 2014

Hoje assisti ao lançamento de um livro. E havia bolinhos no fim.

A mim nunca ninguém me disse que um dia ainda ia autografar um livro. Nunca escrevi poemas aos 10 anos de idade, nem gostei muito de ler os Maias. É verdade que já houve tempos em que passava vários recreios na biblioteca. Lia livros a meias com a minha melhor amiga da altura. Cada uma lia uma página. Sim, é verdade que sempre gostei de ler mas nem sempre gostava do que lia. Nenhum professor elogiou os textos que escrevia. Nem os critérios de correcção do exame nacional de português me premiaram. Talvez porque não merecesse mesmo. Ou porque a minha liberdade de escrita e imaginação foi para além das regras pedidas e admitidas num texto "expositivo-argumentativo". Talvez tenha menos jeito para isto do que penso e do que os meus queridos amigos e leitores dizem. Mas há aqui qualquer coisa que talvez nem eu mesma consiga explicar. Nem que o quisesse. Há algo que me impele a tagarelar por escrito, quando oralmente nada sai. Tal como (descobri não há muito tempo) prefiro ouvir a declamação de um poema ou de um texto em prosa, dispensando ouvir a sua versão cantada. Não me perguntem porquê mas tornou-se óbvia esta preferência depois de assistir àquela peça em que depois de declamarem os poemas, os artistas cantavam-nos. E se num momento chorava e ria ao mesmo tempo sem conseguir conter os nervos do meu corpo que se contorciam e espremiam contra eles próprios e contra a voz e as palavras do declamador, celebrando a genialidade eterna do poeta, no outro momento...nada. Um grande nada ia de encontro à canção que, não desfazendo a afinação e a visível entrega do cantor, transformava o poema em palavras soltas, juntas por uma melodia engraçada e por notas de guitarra portuguesa que essas sim, davam força às minhas mãos para mais uma salva de palmas no final. 
Porque as palavras nem sempre as leva o vento. Se as escreveres elas ficam, nem que seja num papel até a tinta se desvanecer com o tempo. Se as escreveres elas saem com a força bruta da criação, da imaginação, da liberdade de expressão. Saem com uma marca tua, do teu cérebro que tanto valor tem mesmo que não o uses todo. Tal como tu eu também não, e esse é um dos mistérios da natureza humana que me ocupa muitas vezes o espaço do pensamento. Tanto cérebro para só usarmos uma porção mínima? Se calhar é o sexto sentido que ocupa o resto da sua funcionalidade. O sexto sentido, aquele que, quem sabe, te ajuda na saída das palavras por outra via que não a oral, quando essa bloqueia e bombardeia o mundo com disparates. 
Obrigada ao meu cérebro e ao meu sexto sentido. Quando lançar o meu livro serão estes os meus agradecimentos, e peço desde já desculpa pela presunção e pela deslocação vã de alguns presentes (que nem sequer vão ter bolinhos no fim). 

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