segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Lev Tolstoi - A Morte de Ivan Ilitch

E nunca foi tão claro. A morte não é o momento em que deixamos de respirar e nos separamos do nosso corpo. Esse é o momento em que nos livramos dela. A morte é todo o sofrimento que se apodera de nós, a partir do momento em que alguma enfermidade entra no nosso corpo, até ao momento da nossa última expiração. 
O único factor que baralha a claridade dos meus pensamentos é pensar nas pessoas que morrem por acidente, de repente, sem aviso. Sem dias, meses ou anos de sofrimento. Mas escolho acreditar que até essas pessoas têm um tempo em que, estando presas ao corpo mutilado, não se conseguem libertar, sendo obrigadas a sentir nem que seja uma ínfima quantidade de dor e medo. E aí sim, a morte passa por elas. Para depois ser afastada, quando finalmente se libertam de todas as correntes que as prendem a um corpo limitante e torturante. E seja em segundos, em minutos, em horas, em dias, em meses ou em anos, a morte ao passar por cada um de nós faz-nos pensar...pensar na vida que outrora vivemos e naquela que teimosamente somos obrigados a viver naquele momento. Pensamos no que poderíamos ter feito para merecer acabar assim. Pomos em causa tudo o que defendemos, tudo aquilo em que acreditamos, tudo o que fizemos e dissemos. Até que alguém nos dá a mão ou aparece simplesmente no nosso pensamento, e faz-nos ignorar a dor, pondo para trás pensamentos de derrota, angustia e arrependimento. Porque esse alguém faz a nossa vida valer a pena, aquela que já passou há muitos anos e aquela que está prestes a acabar (ou a continuar). Porque esse alguém afasta a morte, e ajuda-nos a ser finalmente livres da dor e do sofrimento. E finalmente chega a paz. 
E se essa pessoa não existir? Duvido que isso seja possível. Mas nesse caso, a morte ganha.

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