sábado, 8 de fevereiro de 2014

têm a noite por sua conta. nada conta, nada existe, nada importa. só eles e o carro que os leva à lua e os traz de volta em meia hora para chegarem a casa a tempo de verem o sol nascer da janela do quarto.
têm fome e sede de vida, de música, da carne uns dos outros. olhos abertos e chuva a cair como um dilúvio de sensações que os invade. param de respirar por momentos, param de pensar, mas continuam a sentir. a chuva, a fome, o som da música a bater nos seus corações abertos e a sangrar.
tocam-se e riem-se. beijos nas bochechas e golos. bolas de matrecos pelo ar e cervejas a cair na máquina de refrigerantes.
ouvem-se baterias a tocar lá ao fundo, na sala das palhetas e dos posters nas paredes. 
anseiam pelo som de uma nota na guitarra, nas mãos dele.
pelo som de uma baqueta a explodir o tempo e o espaço entre eles e o nada que a vida lhes dá. anseiam por bater nos pratos com toda a força que o mundo lhes deu e que eles aproveitam. uns nos outros e neles próprios. força para gritar, para bater, para morder, para massajar os músculos doridos depois de um dia de surf. força para correr, para bombear sangue a uma velocidade alucinante. para acordar e enfrentar os dias e as noites em que estão sós, longe uns dos outros. cada um na sua casa a sonhar com a próxima vez que irão estar juntos a celebrar o universo, o céu, as estrelas, a lua brilhante e cheia que nem uma bola de berlim.
3 da manhã. alguém quer comer donnuts. alguém quer fumar uma. alguém quer marcar um golo soft a uma defesa que não se deixa penetrar. alguém quer dizer "amo-te" disfarçado pelo som da bateria. alguém quer ouvir uma banda que ninguém conhece. alguém quer uma massagem nas costas. alguém quer jogar ao "eu nunca". alguém quer quebrar um recorde num jogo chato. alguém quer partir alguma coisa. alguém quer abraçar outro alguém sem parar. alguém quer ir para casa...porque o infinito é só para alguns. 
alguém quer fugir da chuva. alguém quer chegar a casa inteiro e alguém preferia chegar a casa partido, com vestígios da saliva de outro alguém na boca.
mas todos querem que a noite dure para sempre, e que o som da guitarra não páre de entrar na suas almas, bem fundo até ao centro do êxtase. mais do que alucinógenos, eles precisam uns dos outros.

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