Gosto de pensar que me conheço, que sei como é que funciono. Gosto de pensar que não me surpreendo, que estou familiarizada com a loucura. Que não tenho medo dos sustos que me prego e que só tenho respostas para as perguntas que me fazem.
Gosto de pensar que me conheço, como os piratas conhecem o mar e como as ciganas conhecem as palmas das mãos e as sinas.
Gosto de pensar que me percebo e que não me perco, mas por vezes ali estou eu. Perdida. Na escuridão. Dentro de um labirinto assustador que ao mesmo tempo me parece familiar. Um labirinto sem fim, onde ando sem parar e corro sem olhar à minha volta, tentando encontrar uma saída...ou uma entrada. Tentando encontrar uma resposta, um significado. Uma solução para a loucura constante que reina há décadas neste local, num clima de opressão que desconhece a misericórdia.
O labirinto prende-me durante dias, tortura a minha alma conturbada e provoca arritmias no meu coração, que muito em breve deixará de resistir com tamanha valentia.
Encontro seres maravilhosos que nunca vira antes e reencontro criaturas com quem outrora sonhei e sobre quem li ou escrevi algures no passado. Vejo-os mas não lhes posso tocar pois a pele deles queima a minha, como se me tratasse de um ser sujo e portador de pecado, ao contrario deles que são puros e imaculados. São estranhos e ao mesmo tempo são parte de mim. São partículas da imaginação, são resultado da inocência. São produto da felicidade e são quem me ajuda a encontrar o caminho para fora do labirinto. Guiam-me se em tocarem. Indicam-me que direcção devo escolher, e de súbito estou outra vez em mim.
Acordo com um salto e vou lavar a cara. Olho-me ao espelho e noto algo de diferente nos meus olhos. Aproximo-me e vejo o labirinto lá ao fundo, bem escondido num canto do meu ser. Bem guardado para que ninguém se perca lá dentro para sempre. Porque ao contrario de mim, mais ninguém conseguiria sair de lá vivo.
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