Era uma vez duas almas.
Duas alminhas com alguns anos de vida...com alguns anos de contacto com dois corpos bonitos.
Estas almas gostam de pensar que são diferentes das outras. Gostam de imaginar que o mundo é só delas e que tudo acontece como elas querem. Gostam de brincar com o seu estado miserável fazendo piadas que só elas percebem. Ou pelo menos às quais só elas acham piada.
Quando os outros choram elas riem. Quando os outros riem elas choram.
Quando os outros se abraçam, elas batem no que as rodeia. Quando os outros se batem, elas abraçam-se. Abraços longos e apertados. Duas almas transparentes e não materiais, a abraçarem-se por intermédio dos corpos que lhes pertencem. Destes corpos que as outras almas à volta conhecem e que elas desprezam. Estes corpos que deixam muito a desejar e que às vezes não conseguem acompanhar as almas que contêm. É difícil para qualquer corpo corresponder às necessidades e às expectativas da alma que alberga, mas para estas duas almas a dificuldade triplica se não quadruplica.
Estas duas almas são exigentes. Gostam de se chamar de transcendentes. Não por arrogância ou presunção, mas por convicção...por saberem que são consistentes e audazes. Sabem porque vêem o mundo de maneira diferente. Colocam questões no que os outros aceitam cegamente e percebem de forma perspicaz aquilo que os outros ficam horas a tentar decifrar.
Não são melhores nem piores do que as almas que as rodeiam. Apenas foram feitas para estarem juntas durante grandes períodos de tempo. Períodos durante os quais o mundo fica a ganhar. Chegam a conclusões, tomam decisões, descobrem formulas para optimizar o tempo e a vida, encontram almas perdidas e ajudam-nas a encontrar o caminho.
Era uma vez duas almas, que numa certa noite de inverno esqueceram que estavam dentro de corpos e voaram...
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