no carnaval de Torres não queria estar de certeza

Se me perguntarem onde estou, não sei muito bem. Se me perguntarem onde queria estar, diria que estou bem onde estou. Não dizem que estás onde está o teu pensamento? Pois, se calhar não. Isso seria um pouco complicado viste que teria de estar em 100 sítios ao mesmo tempo. Ao mesmo tempo dá-me um certo poder de omnipresença que mais nada no mundo me pode dar. Vou conhecer a minha avó quando ela tinha 40 anos, vou dizer olá a minha mãe quando ela andava de saias axadrezadas e meias até aos joelhos. Vou pegar-me ao colo, ao eu pequenino que ainda não sabia falar.

Vou a casa de quem não conheço mas gostava de conhecer. Vou dar uma volta na mota de alguém, e ficar muito tempo a andar muito depressa sem conseguir pensar nem olhar para trás. Vou cheirar o perfume do meu avô e dar-lhe um abraço tão forte que faça pressão até aos ossos dele quando ainda eram fortes, tão fortes que nada no mundo os poderia quebrar.

Não sei bem onde estou, mas sei onde gostava de estar agora. Sim, porque se me perguntarem onde gostava de estar daqui a uns dias, não vão obter uma resposta nada politicamente correcta. Faz-me comichão pensar onde vou estar em vez de pensar onde estou e onde queria estar. Um dia alguém inteligente disse-me que a única coisa real era o presente, que o futuro e o passado não existiam. E nunca me disseram nada tão certo (exceptuando o pequeno pormenor que fazer franja não foi a decisão mais acertada que tomei nesta vida). A única coisa que tenho é o presente e posso perder o tempo deste presente a fazer muita coisa, mas recuso-me a perde-lo a pensar no passado e no futuro. Porque até as criaturas de 5 braços e tatuagens promiscuas que vivem na minha imaginação são mais reais que estes tempos verbais que não passam disso. Arrisco-me a afirmar que o futuro ainda existe menos que o passado, se é que se pode classificar as coisas como menos ou mais reais/existentes. Se não, peço desculpa o atrevimento. Acho que para mim faz sentido. Mas, no fim, nada disto importa porque ninguém se atreve a perguntar onde estou nem onde queria estar.