sábado, 10 de novembro de 2012

Se fosse só o silêncio...

Estou dormente. Outrora as imagens passavam pelos meus olhos e todas me diziam alguma coisa. Agora passam, e não passam disso. De imagens a passar. São poucas as que me transmitem alguma coisa. E o problema não é delas, como se tivessem passado a ser criadas sem sentido, sem veia artística ou sem a luminosidade certa. O problema é meu, que passei a estar assim. Como que vazia. Como que dormente. Não oiço eco quando bato no meu crânio, mas já estive mais longe disso acontecer. É agora, neste momento, há cinco minutos atrás e até cinco minutos depois (ou mais se tiver sorte). Porque quando estou dormente não consigo sentir nada sem ser a dormência, o formigueiro e as picadas nos membros inferiores e no centro do peito. Não consigo pensar em mais nada sem ser uma forma de parar a sensação de falta de ar. E se me perguntares de que forma é que isso pode ser positivo, eu lembro-te daqueles últimos dias em que só servia para satisfazer as tuas necessidades. E mesmo assim falhava. 
E, tal como as imagens, tudo passa a 100 à hora diante dos meus olhos. E sim, isto é uma metáfora  É claro que não vejo nada para além do que está realmente à minha frente (ainda não cheguei a esse ponto), mas a mente é uma coisa muito poderosa. Devias experimentar usá-la e sentir coisas novas...memorias, raciocínios, escrever ou ler. Pensar, de uma maneira geral. Experimenta, a sério. Mas continuando...não vejo nada, mas sinto e lembro-me tão bem como se tivesse sido ontem. E tal como as imagens não me dizem nada, também estas memorias já não parecem pertencer à minha vida. Parecem vindas de outro século,  da vida de outra pessoa. Parecem inventadas, parecem mentiras. Mas eu sei que não são, e é só isso que me resta...a minha certeza de que são memorias reais. Não é que precise delas para fundamentar as minhas decisões futuras, mas que tiveram uma gigantesca influência nesta pessoa que digo ser agora...isso é um facto inegável. Nem mesmo por ti. Aliás: muito menos por ti.
É verdade que a mente é a coisa mais maravilhosa que existe, mais misteriosa, livre e maquiavélica. Mas também é verdade que, por muito que pensemos que sim, ela não nos pertence, o que não tira que tiremos partido dela. E é isso que eu estou a fazer. Não planeio o futuro mas sei que já não te espero mais. Não comando a minha mente mas sei que já não penso mais em ti. Mais um pouco e passas a fazer parte daquelas memorias que só se ligam a mim através da minha mente e da certeza que ela me dá que são minhas e não da vida de outra pessoa. De um chinês sem pêlos nas pernas nem sentido de humor. Ou, quem sabe, de um cigano que se tenha casado na América com uma prima, de fato cor de rosa e uma boda de 7 dias.
A única coisa que se mantém entre nós é o silêncio? Meu caro, se fosse só o silêncio...

já não sei quem tu és, nem sei se algum dia soube

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