Senta-te ao pé de mim e não precisamos de falar. Não tenho que dizer o que me irrita nem pensar mais no assunto. Basta ter-te ao pé de mim, sentir que estás ali e saber que não me vais deixar sozinha. Podes ler a revista que tanto gostas, comentar alguns dos artigos e fazer-me esboçar um sorriso que vem mesmo cá de dentro. Podes ficar calado, a fazer-me companhia. Pede-me que te passe os óculos e saberei que estás ali para ficar, que estás ali porque queres. Porque naquele momento não pertences a mais lado nenhum. Não há nada para além daquela sala que nos acolhe, não existe nada do outro lado das paredes que se erguem à nossa volta. Pelo menos não enquanto me curo ao teu lado. Enquanto me ajudas e lês a tua revista. Enquanto me ouves sem eu falar e me vês sem olhares para mim. Já sabes que a minha irritação demora tempo a passar, sabes que as minhas capacidades diminuem e deixo de conseguir falar ou de tolerar qualquer tipo de barulho. Já sabes que fico exausta, que acabo por adormecer. E mesmo assim ficas ao meu lado. A revista é grande e tens muitos artigos para te manteres ocupado. E quando te disse isto uma vêz em conversa, depois de te pedir desculpa pelas secas que te faço passar (e tudo por causa deste meu feitio tão susceptivel), disseste que não precisas de artigos para te ocupares porque não havia outro sitio onde preferisses estar. Disseste que por vezes espreitas por cima da revista e ficas a observar a minha cara que sofre uma metamorfose, passando de uma expressão fechada e ruim para uma expressão tranquila, de paz que te fascina. Passadas algumas horas descais no sofá e acabas por adormecer, e encontramo-nos neste mesmo sono. Profundo.
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