domingo, 27 de julho de 2014

Fui à Tailândia e assassinei a literatura

Parece que agora ir à Tailândia e escrever um livro sobre isso está na moda. Tal como as dores nas costas (quem me dera poder negar a adesão a esta em particular) e os bikinis da Cantê. 
Livros que com certeza não cumprem os meus critérios para o serem. Nem os do Sr. O'Neill que se estivesse vivo chamar-lhes-ia "lixo" com aquela facilidade e despreocupação...ou preocupação com os interesses dos verdadeiros leitores e dos verdadeiros interessados naquilo a que alguns ainda chamam literatura.
Nos dias de hoje qualquer pessoa escreve um livro. Com mais ou menos facilidade...mas quem a tem a menos contrata quem a tem a mais. 
Como em tudo, o especial fica reduzido a comum. "Lugares comuns" onde se encontram as histórias mais mirabolantes e menos interessantes do mundo. De quem as viveu e não consegue guardar para si. Só compra quem quer, só lê quem quer, é certo. O que me impressiona mais é que há quem o faça, caso contrário não chegariam a "top's de vendas" ou "bestsellers internacionais". Já o Sr. O'Neill dizia...um verdadeiro escritor não escreve best sellers (ou algo parecido). 
As viagens à Tailândia são de certeza interessantes. Para quem as fez. E se pensarmos bem no conceito do livro em causa, penso que todos chegaremos à conclusão que de uma grande dose de presunção e egocentrismo se trata. E não digo que um pouco de egocentrismo não tenha sido receita para grandes obras literárias, responsáveis pelo nascimento de génios e genialidades. No entanto esse egocentrismo tem de ser muito bem doseado e, sejamos honestos...esta gente hoje em dia é capaz de tudo menos de dosear capacidades e bom senso. 
O egocentrismo como qualidade é coisa que já não se vê.
Antigamente, não há tanto tempo atrás (felizmente), as mentes que iluminaram e iluminam ainda hoje as nossas prateleiras e as nossas mentes retorcidas e esfomeadas de criatividade, não precisavam de viajar até à Tailândia nem ao Dubai. Não precisavam de dar a volta ao mundo nem de ter experiências eróticas revolucionárias. A revolução estava dentro deles, imune às modas e às tendências. Iluminação que vinha de dentro, sem precisar de holofotes de fama e pretensão. 
Que bons os tempos em que a simples volta ao quarteirão bastava para inspirar o verdadeiro escritor. Tempos em que a ida ao café pela manhã, o pombo meio morto no passeio, o menino a baloiçar no baloiço do jardim, o cão a fugir da dona em plena rua...tempos em que a chávena de whisky bastava para criar o intemporal. O verdadeiro, o genuíno, o desinteressado. O sentimento. 

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