sábado, 21 de dezembro de 2013

no natal fico com as mãos suadas

há uma mão que tenta chegar a ti. que tenta agarrar a tua e fazer-te festas na escuridão. vês essa mão e tentas agarrá-la de volta. mas está escuro e deixas que ela escorregue. está muita humidade. é o calor e frio ao mesmo tempo. é a chuva e o sol. é o medricas e o destemido. és tu e eu. és tu e ele. é ele e eu. és tu...e tu. só tu no escuro, com duas mãos húmidas e tentar agarrarem-se uma à outra. em vão.
tens as palmas suadas. pingos de suor a escorrerem-te pela testa. cegam-te, e a escuridão é total.
nem a ti te vês. nem a ti nem a ele, nem a mim nem a ninguém.
ligas o desumidificador para ver se distingues alguma coisa. nem que seja um vulto. algo que te diga onde estás e para onde deves ir.
encontras uma vela na dispensa e consegues acende-la com o que resta do teu isqueiro. agarras um guardanapo sujo de gordura e pegas na caneta que era do teu avô e miraculosamente ainda escreve. escreves umas linhas de palavras vagas, que provavelmente ninguém irá ler...ninguém irá perceber.
tentas desenhar o teu pensamento em forma de letras...tentas que ele faça algum sentido. mas sem sucesso.
as mãos continuam suadas e a caneta escorrega. escorrega-te a verdade porque não a conheces. escorrega-te a realidade porque sempre preferiste viver na escuridão. escorrega-te o amor porque te negaste a aceita-lo.
acabas a última frase sem ponto final e percebes que é natal. que data é esta que tanto anunciam na televisão? que dia é esse que leva tanta gente à procura de meias e cuecas para os filhos e netos e sobrinhos? que homem é esse de barbas por fazer e barriga de cerveja?
não conheces o mundo e o mundo não te conhece a ti. porque vives de escuridão, suor e palavras escritas sob a pressão do arrependimento. porque te isolas da vida e ela tenta agarrar-te mas tu não deixas.
mesmo assim desejo-te um feliz natal. e salva-me de ser como tu.

ps-tenho sempre as mãos suadas. que martírio!

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