Vem de repente, tão depressa como se vai embora. E ninguém repara. Ninguém tem de reparar. É comigo, comigo e com o bicho que ainda está cá dentro. Parece que não, mas o esforço que faço para o sufocar todos os dias é desesperante. Exaustivo. Uma pinga de sangue cai da minha narina mais sensível. Uma lágrima escorre do meu olho mais forte. Um espasmo faz tremer o meu membro superior direito. A minha pálpebra esquerda parece estar com convulsões. Quem sai a ganhar sou eu, afogo o bicho (pelo menos por enquanto). Sinto o ar entrar pela janela e penso que, graças a Deus, estou viva e, já não tão graças a Ele, sou uma mal agradecida. Que direito tenho eu de me queixar, se quer? Que direito tenho eu de dizer que estou mal ou que me sinto mal?
Por isso, querido bicho de uma espécie ainda não conhecida, mete-te na tua vida, sem graças de ninguém, sem família e sem ar que vem da janela aberta contra a tua cara mal lavada. Sem ouvidos que oiçam a música e a vida, nem as palavras dos teus inexistentes familiares mais próximos que te ajudam quando tu deixas de conseguir fazê-lo.
Afoga-te na tua insignificância, e não deixes o teu cadáver a apodrecer dentro da minha mente que, sendo perversa, não chega aos calcanhares da tua essência maldosa e cruel.
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