Passado esse tempo todo finalmente acabas de ler o livro ao qual dedicaste horas, esforços, horas de sono, pensamentos, raciocínios, pesquisas e emoções.
Vês como a família é algo incompreensível que, na tentativa de se fazer compreender, destrói relações de anos e reforça outras que até então nos passaram ao lado. Vês como não há algo mais complexo, intrínseco e verdadeiro que a família. Como sendo aquilo que te criou, aquilo que faz parte de ti e da qual tu fazes parte. Sem ti não seria o que é, e sem esses outros tantos elementos que fazem pressão sobre ti, não serias o que és.
Lês cada linha como quem descobre algo novo, como quem aprende o que até então ninguém teve a coragem ou a habilidade de explicar. Lês, até mesmo, aquilo que não percebes, continuando contra o desanimo e a confusão que surge dentro desse teu cérebro em constante erupção.
Não há duas famílias iguais, e olhando para as que rodeiam a nossa, parece que tudo bate certo ao contrario do que se passa dentro destas quatro paredes a que chamamos lar. Até mesmo aqueles que não vivem aqui dentro connosco diariamente, fazem parte deste jogo infinito, de perdedores sem animo e vencedores sem escrúpulos.
É assim que vês as influencias, desastrosamente inevitáveis, que cada um exerce sobre o outro, numa rede de sofrimento continuo e simultâneo alcance de respostas e de amor. É esta vontade de viver e de amar, esta ambição pela procura de sentido prático e metafisico para a vida, que nos faz continuar, recuar, ter medo, hesitar, arriscar, desafiar, confiar, chorar, vencer ou perder. E perder, sem nunca sermos derrotados.
Até os que morrem, por vontade própria ou por fatalidade do destino, ganham de alguma forma o conhecimento do que vem depois, a compaixão dos que nunca se lembraram deles em vida, o reconhecimento dos seus feitos (mesmo que reduzidos). Até os que preparam a sua morte, não são desistentes mas sim visionários. São pobres coitados que sofrem mais do que o razoável, que não aguentam tamanha tragédia. São os que enfraquecem após terem sido tão fortes como cabos de aço. O inquebrável acaba por ceder. E deixa o seu legado, a sua memoria, aquilo que era e que deve continuar a ser para quem o estima. E quem o faz, perde tudo menos a coragem para viver, um dia de cada vez.
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