sexta-feira, 22 de junho de 2012

Será que é perigoso?

Não sei quando nem como. Mas um dia vou desaparecer como se fosse uma ajudante de um mágico rasca. Se calhar até posso ficar cortada ao meio e não desaparecer mesmo, ou ficar transformada num rato ou num pombo ou noutra coisa que odeio ainda mais mas que agora não me recordo do nome.
Ninguém sabe quando nem como. Mas um dia todos vamos dizer adeus ao mundo, ou ir embora sem ter tempo de nos despedir-mos. Eu por acaso prefiro não me despedir, prefiro não saber. Prefiro ser ignorante, mesmo sabendo muitas coisas.
Eu adoro saber coisas. Procura-las, descobri-las, relaciona-las, contá-las e escrever sobre elas. Até o dia D chegar, quero aprender muitas coisas e falar sobre elas. Quero ficar com um cérebro muito gordo e fofo, com muitas coisas lá dentro.
Nunca me imaginei velhota. Não sei se isso é mau sinal...se calhar nunca o consegui imaginar porque nunca vou chegar a sê-lo. Há quem acredito que já vivemos várias vezes. Eu, pessoalmente acho que isso seria bastante cansativo. E eu não gosto de estar cansada.
Neste preciso estou muito cansada. Os meus olhos mal se conseguem manter abertos, os meus pensamentos demoram a chegar e eu faço um esforço gigantesco para os puxar e puxar e puxar...outra vez. Mas, como podem ver, eles vêm contrariados. Vêm porque eu os obrigo. Vêm de mau humor. Recusam trazer conexões apropriadas, deixam para trás o sentido e a linha orientadora que sempre me dava algum ponto de partida. Que sempre vos ajudavam a perceber uma parte desta rede neurológica de pensamento incompleto e sem nexo.
Por vezes, fazer um esforço não chega. Se não concretizamos, caímos na desgraça, na depressão. Somos invadidos por aquele sentimento de inutilidade, de fraqueza, de frustração. Não é, jogadores da selecção portuguesa?
Não tenho nada a dizer...
Queria ter muito para dizer, muito para fazer, muito para falar. Estou tão pequena e diminuída.
Ao buraco que se abria dentro de mim, agora veio-se juntar esta falta de cérebro funcional. Este compromisso de desenvolvimento cognitivo.
Que estado é este?
É estar sem estar, pensar sem pensar. Como e é como se ingerisse apenas ar. Falo e só saem ruidos imperceptíveis.
Estou habituada a olhares reprovadores ou até mesmo aqueles olhares de quem olha sem perceber o que vê, de quem se interroga o que isto quer dizer e de quem se preocupa com o que está a lidar. "Será que é perigoso?", perguntam muitas vezes.
E eu juro que gostava de poder responder que sim. Mas neste estado, não é perigoso nem é nada. Por isso não têm com que se preocupar.

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