sexta-feira, 15 de junho de 2012

Atropelamento e Fuga

Fica no teu canto que eu fico no meu. Fica na tua, que eu fico na minha. Se estivéssemos atrasados uns meses no tempo, ou até mesmo umas semanas, era eu a primeira a implorar que ficasses. E eu nunca fui muito de me ajoelhar, porque este joelho ao fim de 20 anos já dá que gemer. Mas agora, onde estamos e quando estamos, até sou eu a primeira a agradecer que mantenhas uma distancia de segurança. Uma distancia de sobrevivência, acima de tudo. Nunca fui de ficar presa ao passado, e espero nunca vir a ser. Por isso fica lá no teu canto. Não te poupes que não é preciso. Não te preocupes com esse ar de acabado com que ficaste de há uns tempos para cá. Não faças caso daquilo que eu te tentei dizer. Esquece, porque não vale mesmo a pena! Fuma muito e bebe ainda mais. Faz muito sexo e não ligues às pessoas que estão à tua volta. Vê só aquilo que queres.
Não me vou cansar a dar-te mais conselhos, porque ambos sabemos a importância que dás aquilo que eu digo.
Só te agradeço por todas as estaladas que me deste e por me acordares do coma nada agradável em que me puseste. Podias ser como aqueles condutores que atropelam alguém e fogem a seguir, mas contra todas as probabilidades e expectativas, conseguiste arranjar uma ponta de dignidade para ligares para o 112 e ires visitar a vitima de vez em quando. Agora que acordei, pensas para ti que o melhor teria sido eu ficar em coma para sempre. No estado em que estava, podias fazer o que quisesses comigo. Tinhas todas as oportunidades do mundo e não tinhas a minha consciência e força de vontade para te dizer que não e para impor os limites que a minha dignidade ajuda a delinear.
Agora que sou eu outra vez, tens de ouvir aquilo que não queres e és chamado à razão, quando a única coisa que te preocupa é fugir dela.
Acredita quando te digo que eu também não sou uma grande adepta da razão. Só mesmo quando tem que ser, quando há muita necessidade disso. E tu fazes com que haja toda a necessidade do mundo. E mais alguma.
Só tens de ficar contra ti, porque eu, ao contrario do que penses e do que te fazem pensar, só quero o melhor para ti. Mas primeiro, quero o melhor para mim.
Tem uma boa vida. Mas tenta não te matares demasiado depressa.

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