sinto-me a mergulhar numa poça de lama, já só tenho a cabeça de fora e daqui a pouco não consigo respirar.
o meu estomago está cheio, pesado e a querer sair para fora do meu corpo. o meu utero contorce-se sem que eu possa fazer alguma coisa para o ajudar, sem conseguir aliviar a dor.
é como se o meu corpo se tivesse a revoltar contra este mundo, está a autodestruir-se numa tentativa de atingir a perfeição interna, a ausencia de dor, de sofrimento. para onde quer que olhe, algo me relembra da minha inutilidade, fraqueza. há algo constantemente a impedir que ignore o meu falhanço, que sinta a dor, a rejeição, a solidão.
sou um ponto vermelho no meio de um quadro preto. sou uma imperfeição, um erro de impressão. sou um resto de nada que outrora foi algo semelhante a vida.
os meus olhos insistem em fecharem-se, fechando-me a mim num mundo distante em que o quadro é todo vermelho. onde tudo acontece como tem de ser, como eu gostaria. em que a vida vem de encontro aos meus desejos. em que há positivismo, alegria e algum amor.
estou a começar a inalar a lama. está a chegar aos meus pulmões, já nao consigo suster a respiração e a poça já me enterrou até ao nariz. agora gostava de conseguir respirar pela testa.
vou fechar os olhos e imaginar que consigo, vou mudar o mundo para que ele funcione para mim, e comigo. vou faze-lo rodar ao contrario, só assim seremos compatíveis. só assim serei capaz de sobreviver, se tudo for ao contrario. como eu.
talvez te encontre no fundo da poça, limpo, sem mácula...sem gota de lama. talvez me ajudes a ficar limpa outra vez.
ou talvez esteja melhor assim. a fazer parte da terra, do lixo, da matéria, da natureza, do nada que faz nascer tudo, da origem, do inicio, da verdade.
estou toda suja e, no entanto, olhas para mim como se fosse a coisa mais bela comque alguma vez te deparaste.
ficas a meu lado, seguindo neste tunel que nao sei onde nos levará. e já não consigo abrir os olhos.
para sempre.
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