"Quem me dera que houvessem semáforos para quando eu me apaixonasse. Assim saberia quando seguir em frente, quando abrandar ou quando parar.", disseram-me uma vez. E imediatamente eu pensei: "Coitada desta pobre pessoa...nunca se apaixonou!". Depois de passar demasiado tempo a tentar arranjar um sentido lógico para tal desejo, a única coisa com o mínimo de sentido que me ocorreu foi o facto de por vezes ser mais fácil agir sem se estar às escuras, sabendo o que a outra pessoa pensa ou sente. Por vezes pode ser uma mais-valia ter certezas e não andar por aí à mercê de uma pessoa que tem um poder sobrenatural sobre nós que vai para além do nosso controlo, da nossa vontade. Porque acho que é isso que é estar apaixonado. E foi então que mudei o meu pensamento inicial. De certo que a pessoa que me disse isto já esteve apaixonada. No entanto, deve ter vivido um desgosto amoroso. Daqueles pelos quais todos nós já passámos ou iremos passar. Um desgosto que nos faz querer desistir e pensar que não fomos programados para alguém conseguir gostar de nós, que nos faz duvidar de tudo o que já nos foi dito até então. Um desgosto que nos faz pôr (quase) tudo em causa. E de certeza que foi isso que essa pessoa passou...chegando àquela ideia absurda dos sinais de trânsito ou semáforos ou lá o que era.
Fui então obrigada a dar um desconto. Por vezes os desgostos e as paixões falhadas dão-nos uma certa quantidade de insanidade mental, de falta de pensamento lógico e de inércia de raciocínio. Não explodi numa discussão sobre o facto daquela frase ser absolutamente absurda, porque não ia valer a pena. E para quem me conhece, sabe que tive de fazer um enorme esforço. Mas consegui. Achei que naquela situação, e após uma declaração daquelas, o melhor que tinha a fazer era dar o número do meu, quer dizer, do psicólogo de "uma amiga minha".
Mas depois da pessoa ter continuado o seu percurso para casa, no meu entender na expectativa de se enterrar no sofá a comer amendoins e a ver comédias românticas, eu continuei a pensar. E só parei quando o psicólogo da minha amiga lhe disse que ela tinha razão, depois de ela proferir um discurso que incluía linhas de raciocínio como: A piada da vida é não sabermos tudo e arriscar-mos quando achamos que sim, ou apenas quando nos apetece. O estar apaixonado é mágico por ser como é...enigmático e desconcertante e fabuloso e assustador ao mesmo tempo. É fazer-mos tudo por impulso e dar em doidos quando não temos tomates, quer dizer, coragem para isso. E se de facto houvessem semáforos para essas ocasiões, eu juro que não aguentava muito tempo sem os partir ao pontapé, não por ser violenta e gostar de falar com o psicólogo da minha amiga, mas por não conseguir abrandar quando o sinal estivesse amarelo nem parar quando o sinal se tornasse vermelho. E muito menos conseguiria aguentar o apito irritante que não pararia de fazer barulho enquanto o sinal estivesse verde, a pressionar-me para eu dar um passo que para mim não devia ser dado. Pelo menos não por enquanto...
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