domingo, 31 de julho de 2011

Um mal maior

O que a memória esquece, as fotografias fazem questão de lembrar. Fotografias que mostram caras outrora conhecidas, que nos relembram das pessoas que uma vez fomos e das pessoas que há algum tempo atrás acolhemos como sendo parte de nós. Agora a memória cicatriza as feridas que essas pessoas criaram e cria uma crosta grossa sobre as feridas que nos auto-infligimos. Reveste a dor que já se sentiu e a perda pela qual passámos. A memória é nossa amiga e ajuda-nos a ultrapassar o que custa, o que dói. Agora tocamos na ferida e é como se já não existisse, porque a memória acalmou a tristeza e apaziguou o ardor. No entanto, por muito tempo que passe, a ferida não deixa de ter existido um dia, por muito longe que esse dia esteja. E na pele permanece uma marca quase invisível, que não deixa de se fazer notar quando o sol bate no local sensível.
Passa muito tempo sem que nos lembremos do bem que aconteceu e que levou a um mal maior. E após esse tempo o sol inside na pele, na forma de uma fotografia que se coloca em frente dos nossos olhos. É esse relembrar do mal maior uma vez vivido, que provoca um fervilhar de emoções, uma arrepio inevitável que se tenta travar a todo o custo.
É nestas alturas que tenho vontade de fotografar só paisagens, e ignorar qualquer figura humana que possa vir a ser um mal maior.

E a que conclusão se chega? Para além de que as fotografias arrancam crostas e abrem cicatrizes, chegamos à conclusão de que a diferença entre o bem e o mal se limita a um segundo apartir do qual nada permanece igual.

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